Mesada ou autoridade?
Repercutiu nas redes sociais o método criado pelo pai Vítor Yamada para a mesada de seus dois filhos, de 8 e 6 anos de idade. Trata-se de uma planilha, com todas as obrigações dos filhos listadas. Cada obrigação não cumprida significa um desconto na mesada de R$ 50 para cada um.
O que dizer sobre esta prática? No mínimo há controvérsias. Não sou psicólogo, mas posso dizer que sou especialista em criação de filhos, uma vez que estou criando 7 de uma vez só.
Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que considero a criação de regras de comportamento louvável. Deixar que as crianças façam o que der na telha, com receio de que se sintam “reprimidas” se lhes forem negadas as suas vontades é o caminho mais curto para o inferno. Além disso, as crianças criadas dessa maneira não entenderão que o mundo é muito mais um conjunto de “nãos” do que de “sims”, de modo que é melhor começar a treinar em casa.
Tendo dito isso, esta planilha parece-me um exagero, mesmo que se tratasse de crianças mais velhas, quanto mais para crianças de 6-8 anos de idade. Em primeiro lugar, são muitas regras. O ideal é focar em algumas realmente importantes, de modo a induzir uma mudança de comportamento naquilo que faz a diferença. Este controle minucioso pode até funcionar no início, mas é pouco provável que os próprios pais terão fôlego para manter o nível de controle.
Em segundo lugar, o enfoque está no negativo: pune-se o que foi feito de errado, ao invés de se incentivar fazer o certo. Uma outra maneira de implementar a mesma ideia seria começar do zero ou com um valor muito baixo, e ir agregando valor à mesada na medida em que atos positivos fossem feitos. Pode haver também os negativos como punição, mas os positivos não poderiam faltar.
E um terceiro ponto, o mais importante na minha opinião: vincular o bom comportamento ao dinheiro. Corre-se o risco de se estar criando pequenos mercenários, que se movem somente em vista do vil metal. Quem é leitor desse blog não pode me acusar de não gostar de dinheiro. Mas crianças deveriam obedecer seus pais pela autoridade, liderança e exemplo que estes inspiram, e não somente pelos reais a mais na mesada. Claro, isso não implica que não se possa dar um prêmio especial (uma ida à lanchonete de preferência, por exemplo) por um bom comportamento ou uma boa nota na escola. Mas tornar isso um modus vivendi parece-me perigoso. Substituir a autoridade paterna pela autoridade do dinheiro não parece ser um bom caminho.
Crédito do thumbnail: Free Digital Photos / Stuart Miles Gostou? Compartilhe aqui!















Quem tem filhos sabe a responsabilidade e a dificuldade de formar bons indivíduos para a sociedade, então acho que criticar o cara não é nada justo! Embora concorde que para a idade e sob certos aspectos (inclusive de como relacionar-se com o dinheiro), tem muitos exageros. O positivo é que é um pai, esforçando-se, dando o seu melhor, isso é amor , por uma educação melhor para seus filhos, então devíamos é tentar sugestionar, contribuir , para melhorar o método e não só criticar…Por exemplo não bato no meu filho, ATÉ PORQUE APANHEI MUITO!(ponho de castigo), mas quem de vez em quando “dá umas palmadas”( NÃO É ESPANCAR! O QUE É UMA COVARDIA) eu não julgo.
Boa noite Marcelo,
fiquei um pouco confuso sobre o seu post no que se refere-se a sua opinião. Imagine você repassando uma lição para uma criança de 6 anos. Ela repetitivamente apresenta-se dispersa e pouco interessada. Troca-se a data, busca um novo momento e o problema persiste. Como ser inspirador, demonstrar liderança e autoridade sem usar mecanismos de troca direta como dinheiro?
Excelente tema.
Marcelo Kastrup
Marcelo, às vezes uma criança com problemas persistentes de falta de atenção e pouco interessada pode estar sofrendo de algum problema mais grave, como Sindrome de Déficit de Atenção. Neste caso, deve-se procurar ajuda especializada.
A maior parte dos casos, no entanto, trata-se do normal: a criança simplesmente não está interessada. Mas precisa cumprir o seu dever, com ou sem vontade. Existem duas formas de se fazer isso, sem recorrer ao dinheiro: privá-la de algo que ela gosta enquanto não cumprir o dever (tempo de TV, por exemplo), ou dar um prêmio caso ela cumpra o dever (um doce diferente, por exemplo). A primeira é preferível, pois na segunda a criança aprenderá que sempre há um prêmio por cumprir o dever, e não é assim que a vida funciona. O dever deve ser cumprido, independentemente dos resultados imediatos.
De qualquer modo, nada disso envolve dinheiro diretamente.
Espero ter esclarecido o meu ponto de vista!
Abraço
Marcelo
Desculpe mas na minha opinião é um absurdo, é não ter nem ideia de como disciplinar uma criança. Veja só, para este Sr. é 4 x mais importante ir a natação do que escovar os dentes!!!! Sem contar que se um deles não quiser ir para a escola o mês inteiro ainda é beneficiado no fim do mês com R$ 18,00. Francamente.
Olha Marcelo, você roubou o meu comentário com o 3o ponto ! rs
Perceba também que, ao vincular tantas punições e aspectos negativos aos descontos, o valor do dinheiro (que é algo positivo, no sentido de adquirir bens) acaba sendo meio distorcido.
Se é para ter tantos descontos, como expostos na tabela, a conclusão de qualquer criança brilhante seria: melhor não ter mesada e nada que possa ser descontado, assim eu posso fazer o que quiser ! (rs)
Abraços, Renato C